Outra vida


 

E se seus braços não mais se abrissem para a multidão, as flores murchassem e a sombra não mais amainasse o tórrido sol. Ficou ali, debaixo da árvore sem frutos a pensar em quantos frutos a vida lhe dera, ficou ali a intensificar sentimentos banais, uma casca de banana, sua falta de sorte; perambulava entre pensamentos. Em seu quadro negro desenhou a face obscura, se via nitidamente sem cor, a sirene da morte, o cigarro que acendera para espantar o sono e as letras para escrever em um papel que só continha linhas. Linhas de juventude, seus negros cabelos pairavam sob a caneta e se mantinha enclausurada em pensamentos. Fora o adeus que a manteve por tanto tempo sob os pés que hoje negava a coloração gris de seus lábios. Quis voltar os anos, rabiscou desenhos de menina. Sobrevoava a paisagem crua do mar sem nuvens escapando assim do que um dia poderia sucumbi-la. Pelo beijo que lhe foi dado, teceu sonhos por um segundo. Vivenciou os antigos castelos, fora princesa, adormeceu. E ante seu caderno de linhas nulas, a perplexidade da lágrima. Trouxe em si sonhos guardados, são pensamentos intrínsecos e mal arranjados, amassou sua folha e esqueceu que escrevia sobre uma outra vida.

Category: 0 comentários

0 comentários:

Postar um comentário