Reuso

Hei de refutar os olhos secos na multidão, o trânsito lento e a acidez lacerante. Hei de hesitar os dias passados em branco em cidade cinza, revendo os muitos que são prédios em rostos singularmente traçados, despedaçados pela rotina. Longe o pássaro sobrevoa a paisagem metropolitana, o cego atravessa a esmo, o morador de rua entristece fotografias. Existem sombras do passado presentes em cada tilintar de barulho, saio adentro em um corredor fundo e me oponho à realidade. O vapor desce as escadas, as soleiras não acomodam calçados. Vozes são ásperas, telas estreitas, música de reuso. Sequer adormeço e desperto com o mais que certo sonoro e vibrante barulho do moderno intrínseco. Tomo a bebida usual, ante milhões sou comum, e ante tantos sou o que sobrou do peculiar.

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Sílaba

As sílabas que desenham teu rosto permeiam minhas lembranças, onde desenho sopros de vida com bolas de sabão a contemplar o mar. Porque fora intensidade desde o primeiro vento, se tornara um ínfimo e essencial pedaço de minha essência, costurava as ondas onde pairavam as gaivotas, percorria o céu e com nuvens te vislumbrava.

Detinha o momento, sílabas formavam estruturadas palavras em um painel de cores. Já vivia em compasso fino com o real e o imaginário, o consciente não menos inconsciente... Cerrava os olhos e estava lá: bata branca e cabelos lisos e negros, e o mar.

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